18.9.06

>> Antiinflamatórios aumentam risco de enfarte, afirmam cientistas.

São Paulo - Dois anos após a retirada do mercado do antiinflamatório Vioxx e um ano depois da suspensão das vendas do Bextra, em função da publicação de estudos que atestavam que o medicamento aumentava os riscos de problemas cardíacos e renais, surge outra polêmica. Novos estudos científicos sobre os efeitos colaterais de antiinflamatórios indicam que remédios amplamente prescritos também aumentam o risco em até 40% de enfartes e derrames. Um deles refere-se particularmente ao diclofenaco, no mercado desde 1988 e vendido sob os nomes comerciais Voltaren e Cataflam, ambos do laboratório Novartis. A empresa, no entanto, garante não ter planos de suspender as vendas, feitas no Brasil facilmente sem receita médica.Segundo pesquisadores da Universidade de Newcastle, na Austrália, o composto aumenta o risco de acidentes cardiovasculares em até 40%, desde o primeiro mês de tratamento. “O resultado é surpreendente”, diz o farmacologista Anthony Wong, do Hospital das Clínicas de São Paulo. “O diclofenaco faz parte de uma geração de antiinflamatórios que protege contra a formação de coágulos sanguíneos e, portanto, evita problemas circulatórios. Mas precisa ainda ser confirmado com estudos clínicos.”Além do diclofenaco, existem hoje no mercado mais quatro princípios ativos da chamada primeira geração de antiinflamatórios, os não-esteroidais: ibuprofeno (Advil), nimesulida (princípio do Nisulid), naproxeno (Naprosin) e piroxican (Feldene). Eles agem principalmente numa substância que participa do processo de inflamação chamada COX-1. Ela está presente em todo o organismo. A boa notícia é que nem todos os remédios antigos apresentam os mesmos problemas. O naproxeno não influenciou o sistema cardiovascular, por exemplo.O FDA, órgão que regula remédios e alimentos nos EUA, anunciou que as novas evidências não mudarão a resolução sobre os antiinflamatórios não-esteroidais.Em nota, a Novartis diz que “a meta-análise não é aceita pelos órgãos reguladores como evidência clínica para suporte de registro de produtos”. A empresa, entretanto, garante que vai analisar mais profundamente o assunto. “Não reconhecemos a validade médica do estudo”, afirma Nelson Mussolini, diretor corporativo da Novartis.Foram revisados 23 estudos clínicos, que envolveram cerca de 1,6 milhão de pessoas. Os dados foram publicados ontem no site da revista da Associação Médica Americana por causa de suas implicações na saúde pública - na versão impressa, sairá apenas na primeira semana de outubro. A revista também publica novas evidências de risco da segunda geração de antiinflamatórios, os inibidores seletivos de COX-2, presente nas articulações. Entre eles estão o Bextra, o Celebrex (ambos da Pfizer) e o próprio Vioxx (da Merck). O Celebrex, considerado boa alternativa pelos médicos, aumenta o risco de doenças cardíacas quando ministrado em altas doses. O Vioxx aumentava a chance de problemas renais em cerca de 50% e quase triplicava o risco de enfartes.

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