8.8.06

>> Hospitais já permitem visita de 24 horas em UTIs.

São Paulo - As UTIs já não são as mesmas, principalmente para quem está do lado de fora. Até poucos anos atrás, os familiares e amigos dos doentes precisavam marcar com antecedência a visita, uma única no dia, que não podia passar de 20 minutos. Sem contar que, para entrar, era preciso se esconder sob máscara, avental, gorro e até sapatilha. Hoje já não há praticamente exigência. E, se quiserem, os visitantes podem até dormir na UTI.A sigla significa unidade de terapia intensiva. É o setor reservado aos pacientes em estado mais delicado, que requerem cuidados em tempo integral - principalmente os que sofreram grandes traumas e que passaram por cirurgias complexas. Antes, o acesso de parentes e amigos era extremamente restrito e controlado porque se acreditava que os visitantes poderiam levar infecções, o que seria fatal para os pacientes fragilizados. “Essa idéia foi se modificando com o tempo”, explica José Maria da Costa Orlando, presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib). “O risco de infecção é mínimo. As bactérias não têm asas, não saem voando de um lado para o outro.”Os grandes hospitais já têm isso bem claro. Em São Paulo, o Santa Catarina permite a entrada ao longo de todo o dia. O Nove de Julho e o Sírio-Libanês têm camas para que os acompanhantes possam até dormir na UTI. O Albert Einstein ampliará a sua unidade de terapia intensiva no início do ano que vem e criará quartos especiais que possibilitarão a presença dos familiares durante as 24 horas do dia. Mesmo os hospitais que têm regras mais rígidas estão abertos ao diálogo com as famílias e à flexibilização do tempo de visita. Segundo a Amib, o Brasil tem cerca de 2 mil UTIs.Hoje, a única exigência que se faz é que os visitantes lavem as mãos antes de entrar numa UTI. É o que basta para evitar as infecções. Nem os médicos vestem mais os paramentos de proteção de antigamente, os mesmos usados numa cirurgia.Presença Incentivada - O contato mais prolongado entre paciente e familiar é não só permitido como também incentivado. “Verificamos que fechar os doentes dentro de uma UTI não faz bem nem para eles nem para a família”, explica Conceição Zechineli, gerente de enfermagem do Bloco Crítico do Hospital Nove de Julho.O médico responsável pela UTI neurológica do Santa Catarina, Ioannis Minas Liontakis, afirma que o paciente não fica à vontade quando está sozinho num ambiente estranho. “Como ele fica retraído, muitas vezes passa a impressão de que não está bem”, diz. “Com a família, ele se sente mais à vontade e mostra seu verdadeiro estado.”Nos casos em que o doente tem dificuldades para falar, por exemplo, são os parentes que ajudam a identificar a comida que ele prefere, que canal de TV quer ver ou se está sentindo frio. “A presença do familiar é um dos componentes de uma melhor recuperação”, resume o gerente médico do Setor de Pacientes Graves do Hospital Albert Einstein, Oscar Fernando Pavão.Neuza Oliveira Tomás, de 54 anos, conta que se sente tranqüila por poder acompanhar sua mãe, de 79 anos, que está na UTI do Sírio-Libanês recuperando-se de uma operação no coração. “Uma mexida no dedo, um olhar... A gente, que é filha, entende o que ela quer dizer.”Apesar da flexibilização das regras, os acompanhantes não podem ficar o tempo todo no quarto ou no box da UTI. A presença não é bem-vinda quando os médicos ou enfermeiros realizam procedimentos como banho e introdução de sonda. Nesses momentos, eles precisam se retirar para a sala de espera.A nova arquitetura possibilitou a mudança nas visitas. Antes, as UTIs eram amplos salões, onde se concentravam todos os leitos, separados por cortinas. A idéia era que os médicos pudessem ter todos os doentes dentro do seu campo de visão. Hoje, a tecnologia permite acompanhar o estado de todos os pacientes por uma tela de computador. Isso deu as condições para que as UTIs passassem a ter quartos de verdade, o que garante privacidade a doentes e familiares. Ninguém passa pela desagradável experiência de ver as manobras de ressuscitação do doente ao lado.“Esses avanços trazem ainda outra vantagem”, acrescenta Guilherme Schettino, coordenador das UTIs do Sírio-Libanês. “A família vê que a UTI é um lugar de vida, não de morte.”

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